Blogueira chinesa foi julgada por violar regras sanitárias, não por fazer jornalismo
Zhang Zhan foi condenada a prisão por desrespeitar protocolo e produzir desinformação sobre combate à Covid-19, ao contrário da informação divulgada inicialmente pela Reuters de que era uma jornalista perseguida pelo governo chinês por fazer postagens sobre a pandemia
A blogueira chinesa Zhang Zhan, de 37 anos, condenada esta semana a quatro anos de prisão, não foi julgada por cobrir a pandemia de covid-19, como noticiado pela imprensa brasileira. A sentença aponta que ela violou protocolos sanitários, causou distúrbios e confusão e espalhou desinformação sobre as ações de saúde pública para combate ao coronavírus.
Zhang é opositora do atual governo chinês e militante anticomunista, conhecida por gravar vídeos em seu canal no Youtube com a mensagem "Acabe com o socialismo, derrube o Partido Comunista da China". Na imprensa chinesa, ela é descrita como cristã fundamentalista. Em outras ocasiões em que foi presa por causar distúrbios, chegou a receber tratamento psiquiátrico e foi liberada.
O jornalista Marcelo Bamonte, que publicou esta semana um perfil de Zhang Zhan, lembra que um dos artigos críticos ao governo chinês escritos por ela contém a palavra “Deus” 62 vezes. No mesmo texto, ela diz que se considera uma enviada de Deus para acabar com o socialismo.
Bamonte também ressalta que, em um dos vídeos, ela própria afirma a um policial que não exerce a profissão de jornalista.
Zhang se refere à covid-19 como “pandemia do socialismo”, criticando as restrições adotadas na China para enfrentar a disseminação do vírus.
A China é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma referência positiva no combate ao coronavírus. Com uma população de 1,4 bilhão de habitantes, a maior do planeta, foram registradas 4,8 mil mortes.
Os Estados Unidos e a União Europeia pediram na última terça-feira (29) a libertação imediata de Zhang, a que se referem como “jornalista cidadã”.